Data

12 abril 2023

Em um episódio com muita informação e debate, os professores José Landeira e Marcos Horácio conversaram com Hulk Giannelli, designer, professor universitário e apresentador do podcast ATOMCast, sobre a função da arte e a sua importância na vida cotidiana.

No episódio Como a Arte Influencia o Cotidiano de Cada um de Nós, os professores foram convidados para oferecer aos ouvintes uma visão importante a respeito do debate sobre arte ser ou não design, e também para falar sobre o novo curso de pós-graduação do Istituto Europeo di Design São Paulo: Crítica, Curadoria e Mercado de Arte, que tem início previsto para 20 de setembro de 2023.

Ouça o episódio completo no Spotify ou assista pelo YouTube.

Arte e design: como a arte está presente em nossas vidas?

A arte é uma forma de expressão humana que continua a evoluir e a influenciar as sociedades, independente da forma que assume, como: pintura, escultura, música, literatura, teatro, cinema, entre outras. 

Arte pode ser entendida como uma forma de comunicação que permite aos artistas transmitir suas ideias, emoções e visões de mundo ao público. Porém, o que é e o que não é arte ainda é um tema controverso e difícil de definir. 

“Quando falamos em arte, é preciso ter em mente que sua definição não é única, e os conceitos daquilo que podem ser arte podem ser contraditórios, como ideias mais clássicas em contraponto a exemplos de artes contemporâneas”, explica Landeira. Como exemplo dessa dicotomia podemos citar o caso do Grafite, que já foi entendido como um estilo periférico e tem como um de seus expoentes artistas como o Kobra, conhecido pelos murais feitos em prédios, mas que hoje ocupa museus e galerias. No entanto, hoje o Pixo ocupa a posição enquanto uma forma de expressão artística periférica, e que dialoga diretamente com o cotidiano dos grandes centros urbanos.

“Existe uma pluralidade de conceitos – até mesmo aquele que diz que tudo pode ser arte –, mas para não nos perdermos, precisamos de uma bússola. Então, o que é arte? Arte é uma linguagem que caracteriza um modo de ser e estar no mundo diante de uma determinada realidade.”

Para os professores, cada indivíduo constrói um conceito seu, que não é feito a partir do nada, mas sim a partir de suas vivências. Essa dinâmica é muito parecida com aprender um novo idioma, e quanto mais você for exposto a ele, mais você se adapta e aprende a usá-lo. 

Quanto mais você pensa em arte, mais você introjeta essa pluralidade.

Arte é design ou design é arte? 

O design, por sua vez, é uma atividade criativa e inovadora, que envolve a criação de produtos, serviços e sistemas que melhoram a vida das pessoas. Ao se apropriar do conhecimento em arte, os designers podem melhorar sua prática, adquirindo uma compreensão mais profunda do processo criativo, dos aspectos estéticos e formais, e da relação entre arte e sociedade.

Ou seja, o design pode usar elementos artísticos, mas seu foco está em atender uma demanda objetiva. 

A arte pode oferecer uma riqueza de ideias e técnicas que podem ser aplicadas ao design. Além disso, a compreensão da relação entre design e sociedade pode ser aprimorada ao se estudar a arte, que é um reflexo da sociedade em que é produzida. Ao se apropriar do conhecimento em arte, os designers podem propor soluções mais criativas e inovadoras, que estejam mais alinhadas com as necessidades e desejos da sociedade. 

Isso faz com que a arte e o design sejam disciplinas interconectadas, e o conhecimento em uma pode enriquecer a prática da outra.

Leonardo da Vinci era artista ou designer?

Um grande exemplo da interdisciplinaridade entre os dois campos, arte e design, pode ser encontrado na vida e obra de Leonardo da Vinci, uma das figuras mais influentes da história da arte e do design. 

Leonardo foi um mestre em ambas as disciplinas e um dos maiores artistas e designers de todos os tempos. Ele abraçou a ciência, a matemática e a tecnologia em seu trabalho artístico, criando obras que são admiradas por sua beleza e sua utilidade prática. Independentemente da classificação, seu trabalho é valorizado pela habilidade técnica e criatividade, contribuindo para o desenvolvimento da arte e do design em sua época e influenciando a produção artística e o pensamento crítico até hoje.

Ainda é importante destacar que a classificação de Leonardo da Vinci como artista ou designer pode ser influenciada pelo contexto histórico e social em que suas obras foram produzidas. Durante o Renascimento, a distinção entre arte e design não era clara e muitos artistas trabalhavam como designers e engenheiros. Além disso, o próprio conceito de arte como algo valorizado por sua beleza estética é uma construção social que evoluiu ao longo do tempo.

Como observou o historiador de arte estadunidense Bernard Berenson, "se você chama Leonardo de artista, você negligencia sua atividade como cientista; se você o chama de cientista, você negligencia seu domínio como artista". O que não pode ser negado é que Leonardo da Vinci foi um gênio criativo que produziu obras de grande valor e influência, que continuam a inspirar e fascinar as pessoas.

O que é ser crítico de arte? 

O papel do crítico de arte é ter familiaridade com as diferentes linguagens da arte para construir um contexto de compreensão da obra de arte.  Seu trabalho é fundamental para ajudar a entender e interpretar o que é arte e como ela se relaciona com o mundo, pois contextualiza a obra em relação à história da arte, à cultura e à sociedade em que foi produzida. 

A crítica é importante para a compreensão da arte, pois ajuda a contextualizar a obra, oferece uma análise mais aprofundada e possibilita uma apreciação mais rica.

A crítica de arte também ajuda a promover a diversidade cultural e a preservação do patrimônio artístico. Ao avaliar a obra de arte, o crítico pode destacar sua importância para a história da arte e para a cultura em geral.

Landeira ressalta ainda que o crítico de arte “não pode ser elitista, mas sim alguém que tem experiência e usa seu repertório a favor de que o fluxo da arte seja contínuo e siga seu curso, tornando o terreno fértil para novas discussões”.

Por fim, é importante ressaltar que o papel do crítico de arte é também promover o diálogo e o debate em torno dela. A crítica de arte não deve ser vista como uma forma de imposição de opinião, mas sim como um meio de abrir espaço para o diálogo e o pensamento crítico. Por isso, o crítico de arte deve ser capaz de apresentar diferentes perspectivas e interpretações da obra, oferecendo ao público a oportunidade de formar sua própria opinião e apreciação.

Fica evidente quando se discute o que é arte e qual seu papel, uma percepção de que a arte não está só no museu e não pode ser apenas para um grupo seleto. A arte é uma forma de expressão humana que permite a comunicação de ideias, emoções e visões de mundo. Ela é uma parte fundamental da cultura e da história da humanidade e tem a capacidade de influenciar e transformar a sociedade. 

Assim: arte é um reflexo da sociedade em que é produzida, mas também tem o poder de influenciá-la e moldá-la.

Repertório e arte: é possível ser criativo sem repertório?

“Estudar arte é entender o movimento contemporâneo da sociedade”, explica o professor Marcos Horácio. “Como se trata de um diálogo e expressão do que é viver, a arte também ajuda a criar o mundo, pois traz repertório de conhecimento sobre o ser humano, nossos desejos e vontades e fala sobre nossa cultura e vida e diversos outros fatores. O curso [Crítica, Curadoria e Mercado de Arte] serve então para esclarecer esse campo e suas intersecções em diferentes áreas, como no Design.

O design é uma atividade que envolve a criação de produtos, serviços e sistemas que melhoram a vida das pessoas. Por ser uma disciplina interdisciplinar que combina elementos de arte, tecnologia, engenharia e psicologia para criar soluções criativas e inovadoras, ao se apropriar do conhecimento em arte, os designers podem melhorar sua prática e expandir sua visão de mundo. Afinal, a arte é uma fonte de inspiração quase que inesgotável, pois oferece uma riqueza de ideias e técnicas que podem ser aplicadas em diferentes projetos, como novas formas, cores, texturas, ideias e conceitos, que podem ser aplicados na criação de produtos, sistemas e processos.

Como estudar arte se não existe um conceito estabelecido?

As discussões sobre os conceitos de arte podem ser debatidos em diferentes camadas e em diferentes níveis de compreensão, que vão de uma conversa no bar com os amigos até debates acadêmicos.

Para os professores, “devido ao fato do IED ser uma faculdade de Design, é natural que designers queiram compreender melhor os fenômenos artísticos. Essas são demandas que surgem também para quem não está inserido no mercado de artes e que deseja compreender melhor esses diálogos plurais múltiplos que se realizam. Com isso, pensamos no curso de extensão em street art (Artes Urbanas: Diálogos Multiculturais), e agora na pós em Crítica, Curadoria e Mercado de Arte.”

Landeira explica que “[o curso] ajuda a tirar proveito disso: se as fronteiras entre as disciplinas não são fechadas, e existem degrades e espaços de intersecção entre um tema e outro, é possível tirar proveito dessas fronteiras e isso pode te tornar um profissional melhor. A arte tem uma contribuição fantástica e trouxe sempre para si a necessidade de olhar para o mundo com variadas perspectivas de acordo com a realidade social e histórica do momento.”

No Brasil, a crítica de arte enfrenta desafios como a falta de investimento em formação de críticos e de espaços dedicados a exposições e debates críticos. A valorização da crítica de arte no Brasil é um desafio, mas existem iniciativas importantes que podem contribuir para o fortalecimento dessa área.


Conheça mais sobre o curso dos professores José Landeira e Marcos Horácio no IED SP: Crítica, Curadoria e Mercado de Arte.

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